terça-feira, 8 de março de 2011

O Paradigma do Acesso Livre

Uma ampla e profunda discussão toma conta da produção científica internacional, a proposta formulada pelo Movimento do Acesso Livre. Esse Movimento preconiza que toda a produção científica seja acessível de forma irrestrita, não só pelo público especializado, mas também por todo o cidadão que deseja simplesmente buscá-la. Em uma verdadeira mudança de paradigma, o tradicional modelo de comunicação científica seria abalado em suas estruturas políticas e legais.

O aprofundamento da globalização, causado por uma maior liberalização econômica e maior intensidade das inovações tecnológicas a partir da década de 1990, abalou as grandes fontes de informação científica, que são os periódicos. Dominadas basicamente pelos países centrais do sistema internacional de poder, principalmente por agências científicas norte-americanas, esses periódicos tiveram que se adequar à uma nova realidade geopolítica e econômica. Antes tornadas acessíveis aos países periféricos somente por meio de vultosos recursos, mormente públicos, essas fontes passaram a buscar alternativas para suprir o decréscimo na demanda por seu conteúdo.

Tudo começou em fins do século XX, quando a função primordial de comunicar trabalhos científicos deixou de ser um atributo de instituições públicas comprometidas com o democrático direito das sociedades em se beneficiarem do conhecimento produzido em suas hostes, para dependerem dos limites impostos por um mercado do saber, medidos por meio do estabelecimento de preços. Impôs-se, com isso, um gap informacional, consolidando ainda mais a diferença entre pobres e ricos, ou melhor definindo, entre incluídos e outsiders.

As barreiras impostas pelos altos preços dos periódicos, limitam a divulgação dos trabalhos científicos brasileiros, assim como as consultas necessárias aos cientistas para o crescimento científico e tecnológico das instituições acadêmicas, em particular, e para o desenvolvimento do país em geral. Tradição que poderia ser quebrada pelos possíveis usos que se fazem das tecnologias da informação e da comunicação - TICs, principalmente por meio de seu maior fenômeno, a Internet, em que a informação é disseminada just in time em suas versões on-line.

Nesse sentido, um amplo movimento tomou forma, pelo acesso livre e irrestrito à informação produzida pelas organizações de pesquisa, o que abriu a possibilidade de se discutir um novo paradigma em termos de produção, divulgação e acesso à informação e ao conhecimento. Um processo político que emerge no bojo da discussão sobre a Sociedade da Informação, em meio ao surgimento de novos atores a partir da relativização dos poderes constituídos e de uma maior participação da sociedade civil nos destinos da humanidade. O Brasil demonstra grande maturidade no desenvolvimento de programas relacionados ao Movimento, ocupando atualmente o quarto lugar entre os países que mais estruturaram repositórios de acesso livre, como bem demonstra a iniciativa do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia-IBICT, ao lançar seu portal de divulgação científica, o CanalCiência.

Toda essa prática na busca por interesses comuns e universais possui um significado que vai além da técnica, alcançando o arcabouço cultural e, por isso, mais abrangente. Processo que exige programas de gestão mais profundos e orientados por iniciativas pedagógicas claras para que a informação possa efetivamente ser apreendida como conhecimento socialmente transformador.

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